Com ponto de partida na bomba de Hiroxima, Yoro arranca para umas primeiras quarenta ou cinquenta páginas de intensidade assinalável. Por uma boa meia dúzia de vezes, apetece transcrever e guardar parágrafos inteiros. Não é de estranhar, por isso, que por essa altura estivesse deslumrado com o livro, que prometia tudo. Acontece que um romance é uma prova de resistência e dificilmente um autor pode ambicionar começar e acabar a ritmo alucinante. A partir de determinada altura, o romance desdobra-se em acontecimentos pessoais que, ao sobrecarregarem as mesmas personagens, as tornam mais inverosímeis. A busca de Yoro, a personagem, é o fio condutor de uma história que ligará a bomba atómica de Hiroxima às minas de exploração de urânio da República Democrática do Congo, e é precisamente nesses dois extremos que está o melhor de Yoro, o livro. Duas realidades tão iguais e aparentemente tão distintas ao mesmo tempo. É aí que Perezagua deixa interessantes questões e respostas felizmente incompletas, que deixam espaço para os juízos do leitor. Paralelamente, dá-se nestas mesmas páginas outra busca, a da identidade sexual e do apelo maternal. Não é assunto de menor interesse ou pertinência, mas dá-se o tal caso de ser muita coisa para carregar num só livro. Ainda assim, acreditando que esta obra – que é a estreia da autora no registo de romance – tinha mais a ganhar em pretender menos, não deixa de ser um bom livro e um excelente indicador para o que podemos esperar de Marina Perezagua.