A insustentável leveza de um livro

Há dias, na Prova Oral, a conversa era entre Fernando Alvim, Xana Alves e Nuno Camarneiro. O tema, como e óbvio, foram os livros. A determinada altura, os apresentadores do programa mostraram alguma estranheza para com as pessoas que andam na rua com livros grandes. Diziam que, para quem anda de transportes públicos ou aproveita a hora de almoço para ler, o ideal eram os livros de bolso. Chegaram a afirmar que quem anda na rua com um “tijolo de papel” pretende apenas fazer uma espécie de statement, mostrar-se mais culto do que realmente é. Nuno Camarneiro não foi tão longe, mas também não contrariou. Ora, como generalização que se preze, esta ideia não falhará poucas vezes. Pessoalmente, não avalio um livro pelo tamanho: já li coisas brilhantes com menos de cem páginas em livro de bolso (A morte de Ivan Ilitch, por exemplo) e coisas bem menos interessantes com mais de trezentas páginas (Os predadores, também como exemplo). Acontece que, quando o livro é realmente bom, quando a escrita realmente prende, um livro grande consegue outro impacto, outra abrangência. Se a ideia de um livro é encadernar o mundo, a vida, fica mais fácil consegui-lo em muitas páginas. Não vejo como é que o número de páginas de um livro pode ser visto como uma demonstração de intelectualidade. Um livro desperta-me interesse por alguns motivos: autor, título, capa, sinopse ou crítica lida; nunca o número de páginas. Segundo a teoria de Alvim e Xana Alves, se um livro que me despertou interesse tiver mais de umas trezentas páginas, só porque vou ler fora de casa, devo dispensá-lo e procurar um mais cómodo livrinho de bolso? Que escolha redutora. Que teoria redutora.

Com as etiquetas

7 thoughts on “A insustentável leveza de um livro

  1. É de facto uma imagem redutora, mas, se pensarmos no contexto do programa, esses comentários já não causam tanta estranheza. LOL
    *

    Gostar

    • Carriço diz:

      Eu devo confessar-me fã do programa, antes de mais. 🙂 Realmente, é uma hora de boa disposição e, muitas vezes, patetice (uma vez por outra coisas sérias). Mais do que mostrar-me preocupado com o que foi dito, estranhei poder haver essa ideia generalizada. Mas há problemas piores, como o de hoje, em que não há Prova Oral. 🙂

      Gostar

      • Nem mais. 😀 Eu também sou fã do programa e adoro o modo como facilmente se resvala do assunto mais sério para a ‘brincadeira’. E convenhamos que, enquanto se está no no trânsito, é a melhor das companhias. 🙂

        *

        Gostar

  2. deep diz:

    Não leio nos transporte públicos, porque no lugar onde vivo não os há e porque faço diariamente percursos curtos. Em contrapartida, sempre que vou a uma consulta e sei que corro o risco de esperar algum tempo, levo um livro comigo, por norma um dos que estiver a ler no momento (tenho o hábito “indecente”, como diz uma amiga, alternar vários títulos), independentemente de ser mais ou menos volumoso. Se opto por um pequeno é só por ser mais prático para guardar na mala. Nunca leio (ou escrevo) em locais públicos para impressionar, embora algumas pessoas que me vêem fazê-lo pensem que sim (percebo-o pela forma como me olham de soslaio).

    Gostar

    • Carriço diz:

      Pois, é precisamente esse último testemunho que me incomoda. Eu tenho lá culpa de se terem escrito brilhantes livros de dimensões enormes? 🙂

      Gostar

  3. «Não vejo como é que o número de páginas de um livro pode ser visto como uma demonstração de intelectualidade.» Faço minhas as suas palavras. Que redutor, avaliar alguém pelo número de páginas do livro que leva debaixo do braço…

    Gostar

Deixe um comentário